“Caymmi e seu violão” consagra o gênio criador das canções praieiras”

O soteropolitano Dorival Caymmi (1914-2008) tinha “dezenove para vinte anos”, quando foi passar férias na então longínqua praia de Itapoã (hoje um bairro da cidade de Salvador), onde descobriu, “o som do pescador, do mar”. Inspirado no ambiente, começou a compor as que seriam chamadas de “canções praieiras”, gênero que inventou, e povoa a irretocável obra-prima “Caymmi e seu violão”, de 1959. Foram vinte anos de lapidação, já que as primeiras “praieiras” foram gravadas, em 1939, no ano de sua estreia fulminante, logo que chegou ao Rio, em dueto com a maior artista da época, Carmen Miranda. Uma delas, foi a suplicante e compassada “Promessa de pescador” (“Senhora que é das águas/ tome conta de meu filho, que eu também já fui do mar”) e a outra a soturna “Noite de temporal” (“pescador se vai pra pesca na noite de temporá/ a mãe se senta na areia/ esperando ele vortá”), de acordes recorrentes, ambas registradas em linguagem matuta da região.

Elo de ligação entre o folclore e a vanguarda, reconhecido por Tom Jobim como “um antecipador da bossa nova”, Caymmi desafiou abismos, sempre a serviço de uma arte fundadora. Como ao musicar o cortante refrão do compadre e parceiro Jorge Amado: “É doce morrer no mar/ nas ondas verdes do mar”. E em sua sentença de observador das águas que nunca aprendeu a nadar: “Quem vem pra beira do mar/ nunca mais quer voltar, ai/ andei por andar, andei/ e todo caminho deu no mar”. (Tárik de Souza)